Dica de Leitura + Apresentação do Resenhista Novo (um nerd legal): O Muro
Autores: Fraipont & Bailly
Editora: Nemo
ISBN: 9788582861639
Ano: 2015
Páginas: 192
Classificação: ✰✰✰✰✰ (Excelente)
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Livraria Cultura
Hm... Devo começar me apresentando formalmente, certo? Então vamos lá!
Meu nome é Tico Menezes, tenho 22 anos, paulista, colecionador de quadrinhos,
leitor voraz, roteirista de curtas-metragens bem ruins, o orgulhoso dono do
título de “Dois Anos Sem Beber
Refrigerante”, crítico de literatura, cinema e televisão há alguns anos,
defensor ferrenho das obras de John Green, fã abobado e eternamente deslumbrado
do universo de Harry Potter, ator ainda pior dos já citados curtas-metragens
ruins, aficionado por Star Trek – a ponto de ter uma camiseta da Frota Estelar
com o meu sobrenome, sim, bobão a esse ponto –, defensor de distopias, poeta
que vê poesia num muro pichado, autor de contos e crônicas sobre assuntos
completamente aleatórios, achei o final de Jogos Vorazes muito bom e ainda ouso
gostar de Divergente – risos, mas é sério –, rato de biblioteca que fica
procurando livros que ninguém conhece e que, quando acha esses livros, se sente
o dono deles por direito, admirador da cultura brasileira, o garoto que corre
de moletom no parque num calor de 36 graus ouvindo Beatles, The Cure e A Banda Mais Bonita da Cidade, professor
de inglês, o amigo que dá livros de presente – mas adora recebê-los também, tá?
–, invejo muito quem sabe desenhar, adoro filmes que costumam deixar as pessoas
revoltadas ou confusas, assim como adoro filmes indie que ninguém conhece ou
acha “esquisito e chato”, compro
livros mesmo tendo uma fila imensa me esperando na prateleira, não vejo
problema em gostar de um clichê ou outro de vez em quando, vejo o mundo com
olhos de criança, pois como uma pessoa muito sábia um dia disse sobre mim “O Tico dormiu com 10 anos e acordou com 20”,
dono de um cachorro chamado Milo, “talvez
você diga que eu sou um sonhador, mas não sou o único”, amo aprender com
clássicos da literatura, da música e do cinema, meu cérebro é muito bom em
guardar curiosidade inúteis, falo demais e, ah... E sou o novo resenhista do
Desejo Adolescente!
Vamos à primeira resenha?
Rosie, 13 anos, viu a mãe fugir com outro homem, vê o pai descontando a frustração no trabalho, fica sozinha o dia inteiro, tem uma melhor amiga que parece cada dia mais distante, sente-se solitária, tem pensamentos melancólicos, não aguenta mais sua rotina vazia, mas não sabe o que fazer para mudar. Ambientado na Bélgica de 1988 e ao som de muita música punk-rock, essa poesia urbana é poderosíssima.
Afinal, o que fazer para mudar?
Essa é a grande questão que “O Muro” – roteiro de Céline Fraipont e arte de Pierre Bailly – trabalha em suas 190 páginas em preto e branco. E na boa? É incrível como os autores trabalham a confusão de Rosie, encontrando sensibilidade num mundo frio, honestidade em meio a pessoas hipócritas, sorrisos em meio a dor.
A HQ me lembrou muito filmes indie adolescentes por causa de sua inventividade em lidar com o vazio que, hora ou outra, todos sentimos. E quando falo da honestidade do roteiro, me refiro às pequenas crueldades da vida e a forma como Rosie e os outros personagens reagem a elas. Por exemplo, um pré-adolescente que descobre o quão inapropriados são palavrões numa mesa de jantar, xingamentos horríveis que se tornam mais frequentes que vírgulas em suas bocas, a negligência de um pai que trabalha demais, a curiosidade em descobrir o que há de tão divertido numa bebida alcóolica ou em cigarros, os pensamentos que nos assolam quando nos deitamos no travesseiro.
Ao terminar de ler “O Muro”, alguns leitores – talvez a maioria – terão bem claro em suas cabeças o que fariam e o que não fariam se passassem pelas mesmas situações, e é justamente nesse momento que percebemos o quanto somos perspicazes para com os outros e o pouco que sabemos sobre nós mesmos. Sabe aquela coisa de “tenho conselhos maravilhosos e consigo ajudar todos os meus amigos, mas não sei o que fazer com a minha vida”? Então, Rosie é uma dessas amigas que têm um problema que nós conseguiríamos resolver com facilidade, mas, ao nos colocarmos no lugar dela, entendemos que nada é tão simples assim, nada é tão preto no branco – com o perdão da ironia, afinal, a HQ é em preto e branco... Ah, vocês entenderam a piada!
A arte de Pierre Bailly é linda, há um jogo que o desenhista faz com as sombras que torna tudo mais sutil, sem perder a profundidade dos sentimentos de cada personagem. A trilha sonora – sim, há uma trilha sonora seeeensacional que rola durante a história – apresenta nomes como “The Cure”, “Ramones” e “Sonic Youth” e, uau, como ilustram bem as passagens. Páginas e mais páginas sem diálogos, cheias de significado sobre maturidade, perda, descoberta, dor, força e sobre a vida e o desafio de viver um dia após o outro.
Intenso, cru e reflexivo, este trabalho não passa despercebido e fica conosco um bom tempo após a última página ser virada, como um bom livro deve fazer. E o mais gratificante é saber que é o primeiro trabalho dos autores, que podemos ser surpreendidos por eles a qualquer momento com algo ainda mais belo. Mas, pensando bem, mesmo que não haja algo novo deles, “O Muro” é para se ler, reler e ler mais uma vez, pois sempre será uma experiência nova. Essa é a magia da literatura – “Quadrinho é literatura, sim!” Disse Tico aos velhos chatos –, é subjetiva e muda conforme os leitores mudam.
Agradeço de coração pela oportunidade de indicar leituras aqui no Desejo Adolescente e estou aberto a sugestões e críticas, prometo respondê-las com entusiasmo e um sorrisão no rosto, reconhecendo o valor de cada opinião. Mas se quiserem falar bem também pode – mais risos, e novamente, é sério.
Fiquem bem SEMPRE!
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