O soco de Jessica, Kara, Peggy, Diana, Frida e Simone
De: Tico Menezes
Num ano que – até que enfim – muito se discutiu e, principalmente, se ENTENDEU a luta do movimento feminista, os nomes Jessica Jones e Kara Danvers deram uma lição de igualdade na TV e passaram uma mensagem urgente sobre o tema, marcando sua forte presença num hall de destemidas obras-manifesto.
Antes de tudo, o que você entende por feminismo? Será que você não tá no meio
da multidão que, ao ler um texto sobre igualdade de direitos e quebras de
padrões opressores começa a gritar para as “Feminazis”
calarem a boca sem a menor ideia do que está dizendo? Qual a ajuda que você
pode dar ou receber do movimento feminista?
De uma forma bastante resumida e didática, feminismo é um movimento social,
filosófico e político que tem como meta direitos iguais, vivência humana
através do empoderamento feminino e a quebra dos já citados direitos opressores
baseados em normas de gênero. É uma luta de todos os que são contra a
violência, o abuso e a inferiorização do ser humano, bastando apenas um mínimo
de empatia e sensibilidade para ter início e ganhar mais uma voz. Se nomes como
Joana D’Arc, Frida Kahlo, Amelia Earhart, Susan B. Anthony, Coco Chanel,
Clarice Lispector e Simone de Beauvoir não te lembram de nada, então é hora de
fechar este artigo e ir estudar um pouquinho mais.
Entrando na ficção, mais especificamente nas histórias em quadrinhos, duas
personagens das editoras competidoras Marvel e DC Comics, se destacaram no ano
de 2015 ao serem adaptadas para a televisão. Com diferentes abordagens do mesmo
tema, “Jessica Jones” – série da
Netflix em parceria com a Marvel Studios – e “Supergirl” – série da emissora CBS – falam sobre a luta diária da
mulher na sociedade, o quão natural é para a maioria das pessoas não reagir a
um abuso explícito e como o sexo feminino ainda é considerado frágil e incapaz
para cargos de liderança ou que exigem força e frieza técnica.
Em Jessica Jones, acompanhamos a personagem-título – uma mulher que, devido a
um acidente pouco explicado, desenvolve as habilidades de superforça e vôo – em
sua rotina de investigadora particular e conhecemos sua dor constante por ter
sido abusada sexual e psicologicamente no passado por um homem – Kilgrave, um
vilão com o poder da persuasão. Ao se deparar com um caso de uma garota que foi
abusada por Kilgrave recentemente, Jessica toma como missão prioritária
encontrar e prender o vilão para que ninguém mais sofra o que ela e outras
pessoas sofreram. Em sua busca por justiça, Jessica conta com Luke Cage – um
bartender com pele impenetrável, já conhecido dos fãs de quadrinhos –, Jeri
Hogarth – uma das mais competentes advogadas da cidade de Nova York e que
enfrenta problemas ao se divorciar de sua esposa –, Patricia Walker – irmã
adotiva, melhor amiga, famosa apresentadora de rádio e ex-apresentadora
infantil – e Will Simpson – policial que fora abusado por Kilgrave e agora
nutre um desejo incontrolável de vingança –, personagens com motivações fortes,
histórias que se sustentam e que abordam diversas outras questões sociais que
merecem ser discutidas.
“Jessica Jones” é uma série sobre os
diversos tipos de abuso que as mulheres sofrem por serem consideradas
incapazes, frágeis, inferiores e objeto de prazer por uma sociedade
culturalmente machista. Com uma atmosfera sombria e que beira o sufocante, a
série conseguiu explicar sem didatismo ou acusações o que é o movimento
feminista e o porquê da urgência em discuti-lo nas escolas, nas universidades e
nas manifestações.

Já “Supergirl” se assume uma série
para adolescentes, que se compromete a apresentar o movimento feminista a
jovens que ainda estão descobrindo suas posições políticas e lutas sociais. Com
uma abordagem mais leve, bem-humorada e romântica, sem soar piegas, a série da
CBS traz a personagem em conflito por não conseguir passar credibilidade como
super-heroína por causa da terminação feminina.
Na trama, Kara Zor-El é a última sobrevivente do planeta Krypton – que explodiu
após uma guerra interna – e é enviada à Terra para cuidar e guiar seu primo
Kal-El – bebê que viria a se tornar Clark Kent –, mas sua nave cai numa zona
fantasma onde fica presa por anos até chegar a seu destino. Quando Kara chega
na Terra, seu primo já é o super-herói conhecido como Superman e ela é adotada
pela família Danvers, tendo que esconder seus poderes e fingir sua natureza.
Kara cresce, se torna assistente da Editora-Chefe da maior revista de National
City e, nas horas vagas, salva a cidade como Supergirl, trabalhando em parceria
com uma operação militar chamada DEO. Mas Supergirl é constantemente comparada
ao Superman, julgada incapaz, destrambelhada e inferior, o que interfere na
vida pessoal de Kara, que também sofre com o julgamento de sua chefe e sua irmã
– apesar de serem amigas. A maioria se cala quando Supergirl consegue salvar o
dia, derrotando o vilão da semana e resgatando inocentes, e os que não se
calam, procuram defeitos e a difamam na internet e em jornais sensacionalistas.
A crítica é explícita e destemida, referenciando negativamente a mídia da qual
faz parte e atinge seu público em cheio, ao retratar dramas comuns aos jovens
que estão adentrando o mundo adulto, muitas vezes dando voz ao que eles querem
dizer e facilitando a auto aceitação sem comodismo.
O grito de igualdade e a luta contra a ignorância estampa em bandeiras,
camisetas, livros, passeatas, filmes e televisão a análise de Simone de
Beauvoir que diz que “o Homem é definido
como ser humano e a Mulher é definida como fêmea. Quando ela comporta-se como
um ser humano, é acusada de imitar o Homem.” Mas engana-se quem pensa que
isso é coisa de agora, que é coisa de facebook, que logo passa. O Feminismo representa
a vida, como quem a faz e a vive, contra quem oprime e a encerra com violência
verbal, física ou psicológica, e, muitas vezes encoberto pelos livros de
História, passa a preguiçosa impressão de que “vem tomando força” atualmente. Temos Jessicas Jones e Supergirls
aos montes na história do mundo, lutando
como uma mulher e não permitindo serem encaixadas num padrão
comportamental. Elas estão salvando vidas e ensinando mentes abertas por aí,
por aqui e por todo lugar.
P.S: Aos fãs de quadrinhos, a Panini
anunciou que Kamala Khan está chegando ao Brasil em janeiro para unir sua voz a
esse coro. Procurem saber mais sobre a personagem, vocês vão se apaixonar!
Nossa Mabel, você sempre arrasa em? Adorei esse post. Fico muito feliz quando você fala nesse assunto, porque ele precisa - e muito! - ser discutido e explicado por pessoas relevantes como você. Já até salvei o link para colocar no post de Interessantes da Semana de amanhã do meu blog, haha. <3
ResponderExcluirhttp://www.lysiaribeiro.com/
Amei o seu post, ficou incrível. Eu terminei de assistir Jessica Jones recentemente e me apaixonei pela série, na minha opinião é uma das melhores estreias do ano. Também achei impressionante como eles abordaram bem o tema do abuso sexual, e de como o agressor, Kilgrave, achava que não fez nada demais. A Jessica é uma personagem muito forte. Ainda não assisti Supergirl, mas pretendo começar, já vi bastante gente elogiando. É muito bom poder ver como alguns canais estão investindo em séries com personagens femininas complexas e abrindo os olhos de muita gente sobre o que é o feminismo.
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