A vida não é um livro do Nicholas Sparks e isso é bom!
Por Tico Menezes
Protagonista Um é solitário e traz consigo um segredo triste
ou um passado conturbado, cheio de momentos difíceis e histórias que só se
revelarão num momento de fraqueza ou entrega total de si. Protagonista Dois
teve a vida um pouco menos sofrida, não pensa tanto em como as coisas serão e
tem uma perspectiva muito mais simples sobre o mundo e como ele funciona. Os
Protagonistas se conhecem, se identificam, se envolvem e tudo é maravilhoso até
que uma tragédia os atinge – as vítimas da tragédia variam entre um dos
Protagonistas ou alguém muito importante para eles. Enfrentam a tragédia
juntos, sempre indo à missa e nunca se permitindo o pessimismo. Aprendem
lições, choram, contam seu segredo mais antigo e seguem em frente, às vezes num
final bem triste e melancólico, às vezes num final feliz. E melancólico.
Longe de mim tirar sarro ou minimizar a importância do trabalho do romancista
Nicholas Sparks. Eu mesmo já li quase todos os seus livros, me emocionei com a
maioria e me envolvi com os personagens, encontrando um pouco de mim e da minha
visão romântica sobre relacionamentos em cada história. Ao contrário do que
pensam por causa das capas – quase sempre idênticas e preguiçosamente editadas
– não são livros ruins, não são iguais, apesar de seguir uma fórmula, não são
histórias sem propósito. Vejo os livros de Nicholas Sparks como um abraço e um
cafuné em quem chega em casa após um dia de trabalho cheio de comentários
insensíveis e poucas demonstrações de afeto e camaradagem. Seus leitores são
sensíveis, muitos temem expor tal sensibilidade por medo, muitos o tomam como
um grande sábio do amor, muitos o leem porque sentem que só ali encontrarão o
amor que sempre sonharam viver, mas muitos sabem que aquilo é só mais um ponto
de vista no meio de um universo de românticos originais e inveterados. Mas como
chegar a tal conclusão, como saber o efeito que uma história como as que Sparks
conta têm na vida de cada um?
Na literatura contemporânea, temos o gênero YA (Young Adult, Jovem Adulto em
português), com representantes fortíssimos como “Quem É Você, Alasca?”, “O
Maravilhoso Agora” e “Uma História
Meio Que Engraçada”, que trazem vidas e romances mais próximos da realidade
atual, não poupam palavrões, situações imperfeitas e referências contemporâneas
para contar suas histórias. Com a proposta de representar o leitor jovem que
está iniciando sua vida adulta, mas não se identifica tanto com os romances
convencionais cheios de frases de efeito e finais melancólicos. Temas como
depressão, solidão, insegurança e futuro são tratados com honestidade nesse
gênero, o amor é algo que fica a encargo do tempo, afinal, temos uma vida para
tocar, rotinas corridas e muita confusão dentro de nós para fingir que tudo
está bem e que estamos prontos para os desafios que o futuro nos prepara. Não
um afago no fim da tarde, mas um “siga em
frente” com um sorriso de canto de boca, o gênero YA é o movimento
literário que existe para dizer que não há problema não viver o amor perfeito
de Hollywood ou não ser igual aos protagonistas sempre belos e com vocabulário
rebuscado. Mas ainda assim não foge ao perigo de influenciar seus leitores a
buscar viver de forma parecida, a se questionar o que tal personagem faria, a
fazê-lo viver a história das páginas. Nicholas Sparks fez isso. John Green fez
isso. Scott Fitzgerald fez isso. León Tolstoi fez isso. Jane Austen fez isso.
Charlotte Bronté fez isso. Hemingway, Wilde, Jojo Moyes e David Levithan, todos
fizeram isso. Mas não foi de propósito, afinal, eles não te conheciam quando
estavam escrevendo.
Essa é a magia da literatura. Assim como qualquer arte, é mutável, está em
constante transformação e nunca será interpretada da mesma forma, esteja você
lendo na adolescência, idade adulta ou terceira idade. Em paralelo com nossas
leituras, está nossa vida, em constante comparação com tudo o que consumimos,
com todas as ideias de como devemos ser na escola, na entrevista de emprego, na
faculdade, no namoro, no casamento ou ao lidar com perdas e momentos difíceis.
É bom que tenhamos histórias belas, inspiradoras e cheias de esperança e
romance em nossas prateleiras, mas é bom que saibamos que essas histórias são
como conselhos de um bom amigo, não estão ali para serem tomadas como verdades,
são apenas uma das várias formas de enxergar o que se põe em nosso caminho.
No fim das contas, se você sabe que não deseja fazer o mal, se está disposto a
se esforçar para conseguir o que quer e trata bem as pessoas, a ficção que você
lê não importa tanto, pois não irá fazer sua cabeça, serão apenas histórias
para se lembrar e se identificar em diferentes momentos da vida. Não viver uma
história escrita por Nicholas Sparks é muito bom, sabe por quê?
Porque quem está escrevendo sua história é você.
Publicação originalmente para o site Obvious
Ai, eu amo tanto ele, mas o que ele escreve é raro ou quase nunca acontece.
ResponderExcluirhttp://alinesecretplace.blogspot.com.br/
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirJá gostei o Sparks por um tempo, até perceber que ele é completamente repetitivo e, sua escrita, muito pobre. Há quem diga que lemos ficção para fugirmos da realidade, mas o fato é: a ficção tem um pezinho na realidade, sim. À exceção da fantasia, prefiro histórias que sejam mais realistas - sem frescura, sem dramalhão, sem a perfeição mentirosa. E acho que é por isso que gosto tanto de YA's, porque eles, em sua maioria, conseguem problematizar com muita realidade questões que livros "adultos" não conseguem ou não fazem. Sou uma eterna apaixonada pelo romance, mas não passo perto dos clichês exagerados e das histórias que você já sabe como vai terminar antes mesmo de chegar à metade.
Gostei do texto, acho muito válido o debate :)
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
De verdade muito fã desse blog <3 Inspiração
ResponderExcluirNossa! Me identifiquei muito com o comentário da Nina Spim. Gosto dos textos do Nicholas há muito tempo, mas ainda assim prefiro me envolver com histórias mais "pé no chão". Concordo com tudo. Mas, queria também deixar um breve comentário sobre escrever nossa própria história, como diz o finalzinho do texto do Tico Menezes.
ResponderExcluirEu, assim como qualquer outra pessoa, quis e quero ser a dona da minha história, de eu poder escolher o roteiro, os protagonistas e os vilões, quis poder apagar e refazer tudo de novo, mas no jogo da vida não podemos apagar o script, temos que lidar com a consequência de atos feitos, temos que lidar com o drama do dia seguinte. Não podemos simplesmente apagar aquela frase dita, aquela atitude, a vida não nos permite isso, mas ela nos permite correr atras, e pedir desculpas se necessário, de tentar concertar, pois não há como amar sozinho, não há graça. Por isso devemos deixar de ser tão hipócritas e egoístas, e aprender a amar e perdoar uns aos outros assim como os protagonistas de um filme ou livro fariam, temos que acreditar no amor, e que vale a pena viver.
Com Amor, Camile.
http://camiledemoraes.blogspot.com.br/
Camile, adorei seu comentário e o que você acrescentou à discussão proposta no texto. Acho que é como Millôr disse, certa vez:
Excluir"Viver é desenhar sem borracha."
E o Nicholas Sparks, assim como outros autores, têm a oportunidade de escrever sequências para suas histórias, tomar rumos fáceis e atuar como bem entender no campo da ficção. Nós não temos esse luxo, como você bem disse. Mas acho que é isso que torna nossas histórias tão únicas, tão especiais. Elas são vivas em cada passo que damos e os livros, bons conselheiros que são, apenas podem nos ajudar a lembrar do que sentimos.
Muuito obrigado pelo comentário, adorei mesmo!
Olá!
ResponderExcluirNossa, que texto foi este??? Não conheço muito as histórias do Nicholas, mas já ouvi bastante gente falar da fórmula que ele usa para escrever seus livros. Como você disse, ainda bem que cada um escreve a sua própria história.