Livro x Filme #02 - Perdido em Marte


E o retorno da coluna “Livro x Filme” no Desejo Adolescente está de volta e dessa vez em proporções astronômicas, afinal, vamos falar de “Perdido em Marte”! (não fosse a piada, seria um bom início de post, né?)

ALERTA DE SPOILER: A coluna “Livro x Filme” conta com que o leitor já esteja familiarizado com as obras indicadas, pois fará análises com possíveis revelações sobre o enredo.

O Livro:


Escrito por Andy Weir, um nerd assumido no que diz respeito à programação de computadores, inovações tecnológicas, protocolos de missões e normas da NASA e literatura de ficção-científica, “Perdido em Marte” é um prato cheio para quem preza por explicações plausíveis para as soluções do enredo e gosta de quando a ficção se baseia no real ou em teorias que aguardam aprovação.

A trama gira em torno de Mark Watney, engenheiro, botânico e astronauta da NASA que, durante a missão Ares 3 em Marte, é vítima de uma tempestade de areia que o fez perder a comunicação com a tripulação e sumir de vista. Assim, os membros da equipe são forçados a abortar a missão e sair do planeta.

Mark acorda e se vê sozinho num planeta inabitado onde nada cresce e não há oxigênio, porém, todo o equipamento de missões anteriores estão a seu dispor, com um único infeliz detalhe: Não há comunicação com a Terra. Mark chega a conclusão de que, se quiser sobreviver até a próxima missão pousar em Marte e descobri-lo ali, terá que usar a ciência e espremer todos os seus conhecimentos para conseguir.

Alternando a narrativa entre os diários de bordo de Mark e o dia-a-dia dos responsáveis pela missão Ares 3 – seja no espaço ou na Terra –, o livro é ágil e dinâmico, não se permitindo ficar cansativo, pois é plenamente ciente de que aborda algo técnico demais. O senso de humor de Mark Watney conquista qualquer um, mas não o faz de forma abobalhada ou otimista, pelo contrário, é maduro, contemporâneo e autocrítico quando se permite fugir da situação em que se encontra.

O autor não poupa detalhes na hora de fazer os cálculos e explicar de forma didática o que cada equipamento faz, quais teorias Mark usa para tomar suas decisões e o que cada passo que ele dá em solo marciano pode significar para os avanços científicos dessa época. E, incrivelmente, nada disso nos afasta de Mark, pelo contrário, é sua noção de que a atividade cerebral das pessoas que trabalham com a NASA é tida como incomum – traduzindo: Astronautas são nerdões – que nos aproxima dele, o que evoca os mais intensos sentimentos quando algo dá errado ou presenciamos uma explosão emocional do personagem. Mark Watney vira nosso melhor amigo. Os tripulantes da missão Ares 3, por serem melhores amigos de Mark, se tornam queridos pelo leitor também, assim como os responsáveis pelas decisões que culminam na missão final de resgate ao primeiro homem a fazer moradia em Marte.

Tenso, complexo, extremamente divertido, realista, emocionante e humano são os adjetivos que melhor definem este best-seller tão incomum que levou o diretor Ridley Scott a voltar às graças dos fãs de ficção-científica e ser Indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2015.

Uma experiência única e que deixa saudades após o virar da última página, “Perdido em Marte” é uma história tão boa que merece ser ouvida por um público maior.


O Filme:


Levado às telonas pelas competentes mãos do aclamado diretor Ridley Scott (de “Alien – O Oitavo Passageiro”) e estrelado por Matt Damon, um dos melhores atores de sua geração e que, bem, dispensa apresentações. Com um elenco de apoio talentosíssimo – Chiwetel Ejiofor, Jessica Chastain, Michael Peña, Kate Mara, Jeff Bridges, Sebastian Stan e Kristen Wiig – e um roteiro amarrado que foge dos clichês do gênero, usando de um humor inteligente para se aproximar do grande público, “Perdido em Marte” foi um dos maiores sucessos comerciais e de crítica do ano de 2015 e muito disso se deve à fidelidade ao material original.

A dinâmica da narrativa, a química entre os personagens e o bom-humor em bem-dosado no meio de toda a tensão da trama são tão parecidas com o que se lê no livro de Andy Weir que, apesar de serem mídias diferentes, tornam as experiências do leitor e do espectador muito próximas. Até os cálculos e explicações detalhadas do funcionamento dos equipamentos foram transmitidos de forma honesta e natural para o filme, o que arrancou elogios de especialistas nas questões técnicas e teorias astrofísicas, agregando ainda mais valor à obra. Se o autor do livro – que não é um romancista e tem aqui sua estreia literária – conseguiu trabalhar personagens tão humanos e levar a trama a um final coerente e otimista, o que poderíamos esperar de uma equipe de artistas renomados em Hollywood?
Indicações ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som, Prêmios BAFTA, AACTA, Writers Guild of America Award e Globo de Ouro. E não é para menos, afinal, um filme que faz o mundo inteiro querer ser nerd por um dia e revive nossos sonhos infantis de ser um astronauta quando formos adultos merece todos os aplausos e o reconhecimento.

Dentre as poucas mudanças do livro para o filme estão um epílogo sobre a vida de Mark Watney pós-resgate, menos cenas da tripulação, um foco maior na parceria da NASA com os engenheiros chineses que possibilitaram a tentativa final de resgate e um ou outro detalhe sobre o entretenimento do protagonista durante seu tempo em Marte, nada agressivo ou destoante demais da obra original.

Bom-humor perante as adversidades de sua situação, mas sem jamais minimizar as dores e permitindo-as fazer parte de tudo o que constitui o ser humano forte e capaz que você é. Essa é a mensagem da desventura de Mark Watney, um astronauta que quebra barreiras interplanetárias para dizer que tudo em excesso faz mal – principalmente Disco Music e seriados dos anos 70.

E você, tem preferência entre as obras? Qual o próximo livro/filme querem ver por aqui?

Abraços, Tico Menezes.
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