Dica de Leitura: Objetos Cortantes
Por Tico Menezes
Autora: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580576580
Ano: 2015
Páginas: 254
Classificação: ✰✰✰✰✰ (Excelente)
O que é assustador para você?
Alguns dirão que monstros, fantasmas e seres sobrenaturais são as coisas mais
assustadoras da ficção, bem, Gillian Flynn – autora de “Garota Exemplar” – diz que o ser humano e toda a complexidade de
seu psicológico pode aterrorizar gerações de forma que fantasma nenhum jamais
imaginou ser possível.
“Objetos Cortantes” é o livro de
estreia de Gillian Flynn, autora consagrada com três obras grandiosas
publicadas no Brasil pela Editora Intrínseca e adaptadas para o audiovisual – “Garota Exemplar” foi um dos filmes mais
impactantes de 2014, “Lugares Escuros” também foi aplaudido nos festivais em
que estreou e “Objetos Cortantes”
ganhará uma série de 8 episódios pela HBO com previsão de estreia para 2017. A
autora trabalha com as possibilidades advindas de traumas e desejos, dos mais
simples e comuns aos mais complexos, o que por si só, já torna necessário que
seus personagens sejam bem construídos no decorrer da trama, com diversas
camadas e uma boa dose de amargura com o mundo em que vivemos. Essa escolha
revela uma ousadia pouco vista nos escritores da nossa geração, pois exige
muito estudo e comprometimento para que nada soe raso ou inverossímil. Pois
bem, “Objetos Cortantes” é um baita
livro de estreia que, visto o sucesso que as outras obras alcançaram,
mostrou-se uma promessa daquelas que não esperam muito para se cumprir.
A protagonista é a jornalista investigativa Camille Preaker, que escreve para o
Chicago Post e luta para superar – e esconder – seu vício em se automutilar
quando se sente mal sobre algo que fez ou pensou. Seu editor e amigo pessoal,
numa necessidade urgente de visibilidade para o jornal, apresenta a Camille um
caso não-resolvido de assassinato de uma criança em Wind Gap, pequena cidade no
interior do Missouri, que ainda não foi coberto por nenhum jornalista e pode
ser uma das grandes matérias de sua equipe. Camille é designada para a missão
porque foi nascida e criada em Wind Gap e isso, supostamente, deveria ajudá-la
a conseguir as informações com certa facilidade. Porém, a jornalista não tem um
bom relacionamento com a mãe – elas não se falavam há 5 anos – e mal conhece a
meia-irmã, Amma, que tem a mesma idade da vítima do caso. Quais os efeitos que
retornar para a cidade onde cresceu por causa de algo tão horrível, rever
rostos de seu passado conturbado e retomar laços que abandonou para se sentir
melhor terão em Camille? E quanto ao caso, quem na pacata cidade seria capaz de
um crime assim?
Toda e qualquer sinopse sobre “Objetos Cortantes”
não fará jus à profundidade da trama e de seus personagens. Cada olhar é
suspeito, cada fala deve ser lembrada, cada demonstração de afeto ou desafeto
deve ser levada em conta como algo a ser reportado, isso sem falar nas
divagações de Camille, relembrando seu passado de erros e atos inconsequentes,
revivendo temores e tristezas e procurando não se envolver emocionalmente ainda
mais do que o esperado.
Gillian Flynn cria uma atmosfera claustrofóbica, que faz com que o leitor
sinta-se pisando em ovos quanto a cada acusação feita mentalmente, ficando
indeciso quanto aos sentimentos despertados pelos personagens. Empatia, pena,
raiva? Não dá para confiar de olhos fechados em ninguém. Mesmo Camille, que é a
narradora, surpreende o leitor com sua força ou fraqueza em determinadas
situações e declarações repletas de opiniões pessoais baseadas em nada mais do
que sua própria experiência.
A estória é, por si só, interessante a ponto de querermos levar a leitura até o
final, mas demora a engatar devido às detalhadas introduções e memórias que
cada rosto do passado de Camille evoca. Não que isso seja um ponto negativo,
mas um leitor acostumado à tramas infanto-juvenis em que 20 páginas apresentam
e desenvolvem o mistério talvez recue e repense sua vontade de se aprofundar
nesse universo sujo, doentio e grotesco que a simpática e familiar Wind Gap
mascara.
Apesar de surpreendente, o final parece um tanto corrido em comparação com o
desenvolvimento da trama, mas nada que tire o impacto da surpresa. Nada de “bela,
recatada e do lar", Gillian Flynn é corajosa, ousada e talentosa. Com pontuais
passagens sobre a arrogância masculina e a cegueira religiosa de comunidades preconceituosas,
“Objetos Cortantes” encontra tempo
para acusar o sistema educacional e policial dos Estados Unidos de negligência
e comodismo, criticando a alienação e a carência que leva alguém a pisar em
cima de quem for para ter seus 15 minutos de fama.
Forte, impactante e necessário, “Objetos
Cortantes” é o romance de estreia que muitos autores desejariam ter e no
qual tantos outros se inspiram.
esse livro está na minha wishlist faz um bom tempo e tenho certeza, por cada resenha que li, que é um livro que eu vou gostar muito.
ResponderExcluirnão vejo a hora de poder ler. :)
muito boa a tua resenha, moço!
Não imaginava que fosse um livro tão profundo. Gostei muito da resenha! =]
ResponderExcluirContadora de Histórias
Olá!
ResponderExcluirJá ouvi falar muito bem desta autora, porém ainda não tive a oportunidade de ler nenhuma obra dela. Os livros estão na minha lista de desejados, só esperando o momento em que eu vou poder tê-los. Ótima indicação.
Sempre quis ler esse livro, mas nunca me sobrou dinheiro suficiente para comprá-lo, ele parece ser um livro ótimo, espero ler ele logo
ResponderExcluirAbraço!!