Assédio no emprego não é normal

Foto: Divulgação/Reprodução

Quando eu tinha 17 anos, comecei a trabalhar em uma escola de informática aqui na minha cidade. A escola era nova, e eu só tinha trabalhado em uma escolinha infantil dando aula de inglês para algumas crianças, ou seja, era praticamente meu primeiro emprego de verdade. Eu estava bem empolgada, iria instruir alunos durante o período da manhã, já que a tarde eu fazia um curso técnico de informática. Seria uma experiência bem legal, poder colocar em prática tudo o que eu estava aprendendo no curso e tirar uma grana. 

As aulas começaram logo. Os alunos eram divididos em turmas de crianças, adultos e idosos. O que era muito gostoso e divertido. As turmas infantis eram só fofura, cheia de criança inteligente querendo descobrir ainda mais o mundo da tecnologia. Os adultos queriam acompanhar o ritmo. E os idosos, aprender, mas mal sabiam eles que eu aprendia muito mais com cada um. Como a escola era nova e as turmas estavam sendo formada, eu ainda não tinha o horário todo preenchido. E esse foi meu grande problema.

O dono da escola era homem. Amigo da família. Ele tinha dois funcionários. O outro professor, que dava aula a tarde e um secretário. O atendente da escola foi o meu problema.

Nos intervalos entre uma aula e outra, e nos horários vagos que eu ainda não tinha turma, eu costumava ficar dentro da sala preparando a aula, corrigindo os exercícios e configurando os computadores. Só que infelizmente, o secretário, achava que eu não tinha nenhuma outra tarefa, e vinha pra minha sala “fazer companhia”. Aparentemente, nada demais. Qual o problema de dois funcionários ficarem conversando nos intervalos? Nenhum. No entanto, ele não queria só conversar. Era o tempo todo com “cantadas”, convite pra sair, pedindo telefone, Facebook. Se eu tivesse interessada, não haveria problema. Mas eu não estava. Deixei isso claro mais de uma vez. A todo o momento. E não adiantava.

Ele era amigo pessoal do meu chefe. Sem chances de fazer uma reclamação. Meu chefe era amigo pessoal da família, e quando contei a eles o que estava acontecendo, ninguém queria arrumar uma briga. De quebra, ouvi que isso era “normal”, que eu “iria ter que enfrentar coisas assim” em todos os meus empregos.

Desespero.

Que mundo é esse, que eu não posso simplesmente ir fazer o meu trabalho, sem ter um cara me perseguindo a todo momento?

Era só eu fechar a porta me despedindo do último aluno que ele aparecia.

Quando eu ia beber água.

Quando eu ia ao banheiro.

Sempre.

Com olhares, palavras, assobios.

Eu simplesmente queria não me sentir diminuída e coagida. Mas me disseram que aquilo era “normal”.

Não. Não é normal.

Pode acontecer, um romance, uma cantada, um xaveco. Sem problemas. Se os dois quiserem (e não tiver problema com a empresa).

O que não era o meu caso.

E também não foi o caso da repórter assediada pelo cantor Biel.

Temos que parar de criar julgamentos e nos colocar no lugar uma da outra. Um dia foi comigo, foi com ela e pode ser você.

A cada dia que passa, vemos como é difícil ser mulher na sociedade. E temos que continuar nossa luta diária para que isso acabe. É claro, homens também sofrem de assédio moral e sexual, mas a grande maioria somos nós.

Eu saí do meu emprego em três meses, não suportei o ambiente intimidador. Nunca contei isso antes pra ninguém. Sempre disse que era pelo meu TCC. Mas meu depoimento pode servir pra ajudar e inspirar outras mulheres.

E a cada dia, em cada piada machista, em cada comentário que me diminui, em todas as rodinhas de conversa, eu luto para que no meu próximo emprego, eu possa trabalhar tranquilamente, e você também.

É por todas nós.

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Comentários

  1. Nossa, Camila, que absurdo! Pelo menos nada mais grave aconteceu! =/
    Nunca tive que passar por algo assim diariamente, mas já tive que ouvir de um chefe em um dos meus estágios que para eu passar no TCC era "só colocar um sainha e sorrir que estava tudo certo".
    Minha vontade foi de gritar na hora x.x

    Espero que não aconteça mais e na próxima, denuncie, processe, compartilhe. Abusadores não podem ficar impunes...

    Um beijo,
    Foca no Glitter

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    Respostas
    1. Que horrível isso que te disseram. Continue firme no seu trabalho, e não precisa se objetificar pra conseguir o que quer. Obrigada pelo comentário, conte comigo se precisar <3 Beijo

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  2. Que depoimento... Isso é um absurdo, nós mulheres não deveríamos passar por situações como essas, mas infelizmente a sociedade está cada vez pior em vez de melhorar.
    Espero que não passe por isso nunca mais, é super constrangedor e intimidador.

    ResponderExcluir

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