Você não tem medo?


Minha carreira de escritora começou aos 13 anos, quando publiquei meu primeiro livro, mas só fui conhecer o feminismo e o movimento negro cinco anos depois. A partir daí comecei a ler, a discutir e a entender cada dia mais sobre o assunto.

Quando caí em mim, estava trazendo minhas lutas ­para os meus livros novos, redes sociais, palestras, discussões com amigos e familiares... Falar sobre isso era libertador, sabe? Me dava força e, mais do que isso, comecei a perceber que muitas leitoras e leitores me tinham como referência e eram influenciados pelo que escrevia.

Responsabilidade grande, né?

Enfim, tudo andava maravilhoso, estava cercada de pessoas que pensavam como eu, que me faziam crescer mais e acabei acreditando que o mundo estava muito perto de ficar lindo (risos).

Até que percebi que vivia numa bolha. Não era bem assim que as coisas funcionavam. Na vida real, as pessoas estavam disseminando ódio e criando expressões para nos silenciar e nos deslegitimar; “feminazi”, “mimimi”, “o mundo tá ficando chato”...

No meio desse processo de choque de realidade, me perguntaram se eu não tinha medo de postar e falar minha opinião, já que sou escritora e posso perder leitores que não concordam comigo.

Então parei e pensei em como minha vida muda diariamente com doses de empoderamento que vou tomando de pouquinho em pouquinho. Pensei nas leitoras que se descobriram feministas por causa dos meus livros ou das minhas postagens, pensei nos meus leitores negros que me contam casos de racismo e vibram pela minha última trilogia trazer o tema à tona, pensei em familiares e amigos que me ensinam e que aprendem comigo.

Mas principalmente pensei nas pessoas que não concordam com direitos iguais para mulheres e homens ou que acreditam que homens, brancos, héteros (ou qualquer grupo padrão) são superiores. Tenho que parar de falar sobre minhas lutas por causa deles?

Então você não tem medo?

Medo eu tenho é de nós, mulheres negras (e outras minorias) ficarmos caladas, não podermos mais lutar. Uma história inteira baseada em silenciamento e opressão e ainda querem que eu pare de militar? Pois não paro. Pois milito em dobro. Na literatura, nas redes sociais, nas escolas em que palestro, nas ruas, dentro de casa e onde mais estiver.

E os que não concordam com igualdade, eu sinto muito (mesmo, de coração), porque para mim essa não é uma questão do estilo “gostar de verde ou amarelo”, “torcer para o time x ou y”. É ser preconceituoso ou não, é escolher o lado do oprimido ou do opressor.

Para mim, como pessoa e artista, ver todo esse ódio espalhado e optar por não me posicionar é como escolher o lado do opressor.


E já faz muito tempo que tomei a direção oposta.

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